O dia que fotografei o parto da minha melhor amiga
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~ O dia que Pierre veio ao mundo ~
Eu havia acordado fazia pouco tempo quando recebi a ligação da Pri. Quando atendi, o Marcel falou ao fundo “parabéns, titia”. Pensei “caramba, já nasceu assim do nada?”.
Não, ainda não tinha nascido.
Eu e mais uma fotógrafa de Bragança estávamos na espera, eram as últimas semanas da gestação da Regiane e se não fosse agendada cesária, a fotógrafa que estivesse mais próxima correria até a maternidade.
No dia 16 de abril de 2022, o trisal me ligou dizendo que a bolsa da Rê tinha estourado e se eu conseguiria ir pra Bragança.
Levei uma hora pra arrumar tudo, abastecer e pegar a estrada. Um agradecimento em especial ao frentista do posto onde abasteci (rs) que fez a gentileza de passar a mais no cartão e me dar a diferença em dinheiro pra eu pagar o pedágio, porque senão eu teria que parar em um caixa eletrônico ainda para tirar dinheiro. E o tempo urgia.
Às 11h eu cheguei em Bragança. A Rê não estava sentindo dores, nem contrações. Estava tranquila, nem parecia a Regiane agitada e ansiosa que todos conhecem. Depois de alguns exames, eles foram acomodados em um quarto só para eles.
A Rê queria muito ter parto natural, mas tinha entregue nas mãos de Deus, como eles sempre disseram, se tivesse que ser tudo ia fluir naturalmente para que fosse. Mas ela não estava tendo dilatação, então o parto normal teria que ser induzido e ela não queria dessa forma. Ela escolheu então fazer a cesárea.
A Regiane seguia tranquila e sem dores.
A Sayuri, uma grande amiga da Re, havia enviado uma música para ela ouvir antes do parto. Quando a Pri deu play, a Rê começou a chorar.
A música era linda, emocionante.
“Eu descobri você dentro de mim
Quase não podia ver, mas já podia sentir
Sei que tudo vai mudar, nova mulher eu serei
Deixo o medo para trás, pra te acolher"
O horário da cesárea foi marcado, 15h. A Regiane tranquila e sorridente de quando eu cheguei deu espaço a uma Regiane séria, pensativa, introspectiva. O momento estava chegando, um momento importante, crucial e que mudaria tudo dali em diante.
Eu já continha minha emoção ali no quarto, antes mesmo da cirurgia. É complicado ser responsável por fotografar momentos tão emocionantes de quem a gente ama, de quem a gente viveu uma vida inteira junto e passou por tantos momentos marcantes. Minha melhor amiga há quase trinta anos estava ali prestes a se tornar mãe e eu pude estar junto com ela nesse momento, ouvir o primeiro choro do seu filho e ver as lágrimas inundarem o rosto da mais nova e linda mãe.
Pontualmente às 15h vieram buscar a Rê. Eu, a Pri e o Marcel já fomos junto para nos paramentar com as roupas do hospital. Na porta do centro cirúrgico, eles se despediram por alguns instantes.
Foi tudo muito mais rápido do que pensei que seria. Fomos direcionados a uma salinha enquanto a Regiane recebia a anestesia e a cirurgia se iniciava. O nervosismo e a euforia eram evidentes nos olhos da Pri e do Ma. A Pri ficou o tempo todo espiando pela pequena janela que tinha na sala, tentando ver o que acontecia na sala de cirurgia.
Alguns poucos minutos depois fomos chamados à sala de cirurgia. A Pri sentou de um lado da Rê e o Ma do outro. Ela ficou conversando o tempo todo com os dois, enquanto os médicos preparavam cuidavam da Rê e preparavam a estreia do Pierre nesse mundo.
Então o médico disse que Pierre estava prestes a nascer e eu me posicionei no lugar certo para fotografar o momento. A Pri também queria ver com seus próprios olhos e se posicionou ao meu lado. Eu que até então estava conseguindo controlar minha emoção, comecei a tremer demais e uma vontade desesperada de permitir que toda emoção se esvaísse por meus olhos. Mas eu precisava estar com minha visão nítida para não perder nem um milésimo de segundo dessa cena.
Pierre era um bebê grande e não saiu na primeira tentativa. Eu que não entendo nada e que vi apenas um parto na vida já comecei a ficar ansiosa e com medo de que algo estivesse saindo do controle. As emoções se misturam de uma forma tão louca nesse momento. Gratidão, medo, felicidade, preocupação, alegria, receio. Afinal, por mais lindo que seja, se trata se uma cirurgia e cirurgia sempre há algum risco.
Quando Pierre saiu e começou a chorar, eu quase chorei junto. Ouvir o choro de um bebê ao nascer é a coisa mais linda e gratificante de todo esse processo, pois quando chora sabemos que está tudo bem.
Logo depois os médicos o passaram para a Regiane por baixo da cortina que havia na mesa da cirurgia. Ele chorava, chorava e a Regiane perguntou se ele não ia parar de chorar, porque ele estava chorando muito rs. A Pri disse que era normal e os médicos a acalmaram dizendo que o problema é o bebê não chorar, ele chorar muito era sinal de que estava tudo bem.
Depois de um tempo em contato com o calor da Rê, eles levaram o Pierre para uma salinha ao lado para dar os primeiros cuidados e as primeiras vacinas. Ele parecia que já queria interagir com todo mundo ali em volta, fazia um esforço pra abrir os olhinhos a todo momento.
Quando a Regiane me disse que queria que eu fotografasse o parto, minha primeira reação foi me esquivar. Eu disse "tá doida? eu já quase morri de emoção fotogrando o seu chá revelação, quase não consegui tirar foto. O parto é demais pra mim, eu não vou aguentar, vou chorar o tempo todo."
Mas quem conhece a Regiane sabe que quando essa ariana coloca uma ideia na cabeça, ela vai até o fim e consegue, rs.
Eu tinha medo de, pelo fato de ter uma ligação muito próxima com ela, eu me emocionar a ponto de comprometer a fotografia de um momento tão único. Mas a partir do momento que vi que seria eu mesma ali naquela hora, me contive até onde pude pra que essa família tivesse para sempre o registro de um dia tão sonhado e tão esperado por cada um deles.
Gratidão à vida por me permitir viver isso com eles e gratidão pela vida do Pierre!
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Música que citei no texto: Gestando a Vida (autoria: Larissa Lis)